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Entendendo a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI)

Categoria: Condições e Doenças

No universo da oftalmologia, poucas condições são tão impactantes quanto a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI). Fizemos esse texto com o objetivo de esclarecer de maneira direta e informativa o que é a DMRI, enfatizando sua relevância no cenário da saúde ocular, especialmente no Brasil - onde, infelizmente, a consciência sobre saúde ainda é limitada.

Dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia apontam a DMRI como a terceira maior causa de cegueira no país, afetando aproximadamente 3 milhões de idosos. Contudo, uma pesquisa do IBOPE DTM revelou que 74% dos brasileiros não estão familiarizados com a doença. Fico feliz de compartilhar alguns conhecimentos acumulados na minha jornada como oftalmologista, com o intuito de promover uma maior compreensão sobre a DMRI.

Antes de tudo: o que é a Retina e por que ela é importante

A retina, uma estrutura vital nos nossos olhos, funciona como um filme fotográfico em uma câmera, captando imagens e enviando-as ao cérebro. Na retina, mais especificamente na mácula - sua parte central - é o local a DMRI pode afetar, impactando significativamente a visão de detalhes.

Para compreender a DMRI, é essencial entender a função da retina e da mácula. A retina é responsável por converter a luz em sinais elétricos, que são interpretados pelo cérebro como imagens. A mácula, por sua vez, é crucial para a visão central e para atividades que exigem foco visual, como leitura e reconhecimento de detalhes, feições, objetos e rostos.

A Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) afeta essa área extremamente importante, comprometendo a visão central e a capacidade de ver detalhes. Em um nível celular, a DMRI provoca danos às células fotossensíveis e ao tecido de suporte na mácula, resultando em perda visual. A compreensão dessa estrutura e de seu papel vital nos ajuda a entender a gravidade da DMRI, o quanto ela compromete visão e o impacto que a prevenção e tratamento precoces podem fazer na qualidade de vida de alguém.

A DMRI compromete essa região, resultando em perda significativa da qualidade de vida.

Entendendo a DMRI

A DMRI manifesta-se de duas formas principais:

  • a forma seca, que é a mais comum, caracteriza-se pelo acúmulo de drusas e atrofia do tecido macular;
  • a forma úmida (ou exsudativa), menos comum mas mais grave, caracterizada pela formação de vasos sanguíneos que podem vazar e causar cicatrizes.

Fatores como idade, predisposição genética (estudos mostram genes como o factor H e o ARMS2 relacionados à doença) e hábitos de vida, incluindo tabagismo e dieta, são relevantes no desenvolvimento da DMRI.

Por esses eiscos, é fundamental a detecção precoce dessas alterações, possibilitando intervenções que podem retardar a progressão da doença.

Quais os sintomas e como é feito o diagnóstico da DMRI

Mesmo que possam variar entre indivíduos, os sintomas mais comuns da DMRI são:

  • linhas retas aparentam estar tortuosas
  • manchas na visão
  • piora da visão central
  • visão borrada ou distorcida

Um teste que ajuda a detectar casos avançados é o teste de Amsler, sobretudo sua primeira grade. Ela é, sim, útil em casos de muitas doenças oftalmológicas além da DMRI, como por exemplo coriorretinopatia serosa central, membrana epirretiniana, neurorretinopatia macular aguda, edema macular cistóide.... Ela pode auxiliar o paciente no entendimento da sua percepção e no seu acompanhamento, sobretudo de pioras súbitas e melhora do resultado do tratamento, fruto de uma intervenção mais precoce.

Grade 1 do Teste de Amsler
Grade n. 1 do Teste de Amsler

No entanto, cuidado. Conforme as múltiplas condições citadas, ter sua percepção alterada neste teste, não significa ter o diagnóstico de DMRI. Ou seja, o teste não substitui, de maneira alguma, a avaliação de um especialista. ALém disso, a tela de Amsler tem baixa sensibilidade (aproximadamente 50% dos escotomas não são detectados), e, dada a sua subjetividade, não é o melhor parâmetro para seu diagnóstico e acompanhamento.

Para o diagnóstico da DMRI, é fundamental uma consulta oftalmológica que abrange não somente o exame oftalmológico completo mas uma boa anamnese - uma boa conversa, digamos assim.

Após a suspeita, podemos utilizar recursos de exames complementares como a tomografia de coerência óptica (OCT), o exame padrão ouro para visualizar o tamanho das drusas, o estado das camadas retinianas e a atrofia na forma seca. Outro exame, a angiofluoresceínografia - ou angiografia com fluoresceína, pode evidenciar a presença de vasos sanguíneos anormais na forma úmida da doença. A indocianinografia, utilizada mais rarafemente, pode auxiliar em alguns casos nos quais existe a possibilidade de outra doença, principalmente em casos nos quais outras hipóteses diagnósticas são pensadas, tudo de acordo com o perfil do paciente, o padrão das lesões, enfim, cada caso é um caso.

Avanços recentes, como a OCT-angiography, um tipo de OCT que também evidencia alguns vasos sangúineos porém sem o uso de contraste, permitem um diagnóstico mais detalhado sem a necessidade de injeção de corantes. No entanto, o OCT-angiography não substitui por completo a angiofluoresceínografia, mas pode auxiliar em muito o uso de contrastes.

Na dr. bemtevi, incorporamos essas tecnologias caso a caso, proporcionando um diagnóstico preciso e personalizado.

Tratamento da DMRI

O tratamento da DMRI varia conforme o tipo.

Na DMRI úmida, as injeções intravítreas de medicamentos anti-VEGF (Fator de Crescimento Endotelial Vascular), como o Ranibizumabe (Lucentis), o Aflibercepte (Eylea), mostraram ser eficazes na redução da progressão da doença. Alguns medicamentos novos podem ser citados, outros como o Faricimabe (Vabysmo) e o Brolucizumabe (Vsiqq - aprovado pela ANVISA em 2020) e estão em fase de consolidação do seu uso, porém seus benefícios e riscos devem ser sempre ponderados e avaliados pelo médico e comunicados ao paciente.

A descrição e o relato desses riscos nos reafirma o quanto o uso de novos medicamentos exige cautela e, sempre, respaldo em evidência científica.

Outros medicamentos, ainda, podem ser citados, como a aplicação de anti inflamatórios esteroidais como o implante de Ozurdex, em casos refratários, pode ser recurso em algumas situações.

Para a DMRI seca, a suplementação com vitaminas e antioxidantes (fórmula AREDS2, incluindo luteína e zeaxantina) mostrou que pode ser benéfica, dentro de algumas condições, para alguns grupos de pacientes nos prolongamentos e desdobramentos do projeto de estudos AREDS. Atualmente, seu uso é questionado em alguns estudos de revisão,

Existem ainda, estudos com o objetivo de desenvolvimento de novos tratamentos estão focados em terapias genéticas e células-tronco. Pesquisas promissoras como o estudo STAR, explora o uso de células-tronco para regenerar tecidos da retina, no entanto, muitos desses projetos ainda estão em fase 1 e fase 2, procurando estabelecer seguranca e eficácia.

Dicas para quem tem DMRI

A adaptação ao diagnóstico de DMRI envolve mudanças no estilo de vida, com ênfase em uma dieta rica em antioxidantes, diminuição de alimentos gordurosos e o estímulo a interrupção de hábitos de vida realacionados à progressão da doença, como o tabagismo, e a prática regular de exercícios, sempre no intuito de desacelerar o progresso da doença.

Além disso, a adaptação do ambiente doméstico para melhorar a visibilidade e segurança é fundamental e o uso de novas tecnologias, quando acessíveis ao paciente, pode auxiliar MUITO em sua adaptação e manutenção das atividades em seu dia-a-dia.

O apoio emocional e psicológico também é crucial. Certamente, a perda de visão pode levar a sérios desafios emocionais que necessitam de suporte, muitas vezes, profissional.

Palavras finais :)

Embora a DMRI apresente-se como uma condição desafiadora, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem fazer uma enorme diferença. Os avanços na medicina oftalmológica abrem caminho para melhores resultados e esperança para aqueles afetados, sublinhando a importância do acompanhamento regular com oftalmologista de confiança e a adoção de um estilo de vida saudável como medidas preventivas.

Na clínica oftalmológica dr. bemtevi, estamos comprometidos com a empatia, respeito e a construção de uma relação humanizada com nossos pacientes, assegurando o melhor cuidado possível.

Referências:

Resumo
  • Definição: A DMRI afeta a mácula da retina, essencial para a visão de detalhes, sendo uma das principais causas de cegueira no Brasil, impactando cerca de 3 milhões de idosos, com muitos brasileiros desconhecendo a doença.
  • Formas: Existem duas formas: a seca, mais comum, envolve acúmulo de drusas e atrofia macular; a úmida, mais grave, é caracterizada por vasos sanguíneos anormais na retina.
  • Riscos e Diagnóstico: Idade, genética, tabagismo e dieta influenciam seu desenvolvimento. O diagnóstico inclui exames como OCT e angiofluoresceínografia.
  • Tratamento: Para a úmida, injeções de anti-VEGF são eficazes. Na seca, vitaminas e antioxidantes podem ajudar. Pesquisas em terapias genéticas e células-tronco estão em andamento.
  • Prevenção: Mudanças de estilo de vida, dieta antioxidante e exercícios ajudam na prevenção. Acompanhamento oftalmológico regular é crucial.
  • A DMRI é desafiadora, mas o diagnóstico precoce e tratamento adequado são fundamentais para manter a qualidade de vida dos pacientes.
Por:
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Dr. Luis Filipe Nakayama
Médico Oftalmologista | Especialista em Retina e Vítreo
CRM-SP 168.955 | RQE 70.863
drluis@drbemtevi.com.br
Os artigos deste blog são revisados por um médico oftalmologista credenciado e certificado pelo CREMESP e CBO. Este artigo não substitui o aconselhamento médico profissional. Se você ou alguém que conhece está enfrentando problemas de visão ou sintomas relacionados ao tema tratado, é crucial buscar a orientação de um especialista qualificado.
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